«Mensagem mais esquecida»
das Aparições de Fátima ?
Reconheçamos, decisiva e definitivamente, o valor enorme e sublime das orações, penitências e sofrimentos (pela infinita Misericórdia Divina), enquanto pernanecemos neste mundo de provação, conversão e santificação, segundo o Plano salvífico de Jesus Cristo, quer em relação ao próximo e a nós mesmos, quer em relação às Almas do Purgatório; porém, sempre visando a maior Gória de Deus, de Quem tudo procede e a Quem tudo devemos, que só assim poderemos salvar-nos, sendo eternamente felizes! * * * * * * *
Além da afirmação do triunfo do Coração Imaculado de Maria e do impacto relativo ao Segredo de Fátima, muitos outros aspectos da mensagem assumiram importância capital no contexto das revelações.
A devoção dos Cinco Primeiros Sábados, as orações ensinadas por Nossa Senhora às crianças, o Milagre do Sol e as aparições do Anjo de Portugal constituem exemplos marcantes destes factos, tendo sido descritos e abordados em detalhe nos livros e documentos sobre as Aparições de Fátima.
Um aspecto, porém, aparentemente por não se enquadrar no espírito das revelações, não tem sido analisado com igual rigor, mas, embora secundário, deveria merecer muita atenção e reflexão por parte de todos os Cristãos.
É o que poderíamos chamar de “mensagem mais esquecida de Fátima”.
Este facto ocorreu já na primeira Aparição, e a sua revelação deveu-se a uma resposta de Nossa Senhora a uma pergunta de Lúcia.
Recapitulemos essa parte do diálogo entre a Mãe de Deus e a Pastorinha de Fátima:
– A Maria das Neves já está no Céu?
– Sim, está.
– E a Amélia?
– Estará no Purgatório até ao fim do mundo...
Maria das Neves e Amélia eram duas amigas de Lúcia, que frequentavam a sua casa “para aprender a tecer com a sua irmã mais velha”, e faleceram pouco antes das Aparições – Maria das Neves faleceu em 26/02/1917 e Amélia faleceu a 28/03/1917, ambas com 20 anos de idade.
A resposta de Nossa Senhora, quanto ao destino eterno de Amélia, é categórica: «Estará no Purgatório até ao fim do mundo»!
São palavras duras e preocupantes, quando revelam a Justiça de Deus aplicada a uma jovem portuguesa que vivera apenas 20 anos, no início do século XX, num lugar isolado e deserto, perdido nos contrafortes da Serra do Aire (distante cerca de 150 km de Lisboa), onde predominam colinas pedregosas e azinheiras, jovem essa descendente de um povo bom e ordeiro, de Católicos praticantes e devotos do Terço do Rosário.
Fátima, em 1917, representava provavelmente um ambiente de extrema religiosidade e de prática corrente da Moral Cristã.
Que género de pecados teria cometido esta moça, de modo a ter que pagar as penas e danos, devido a eles, no Purgatório até ao fim do mundo?
A primeira questão, que surge desta revelação, deveria ser a de uma profunda reflexão sobre a gravidade do pecado e a Justiça Divina (para além da imensa Misericórdia de Deus, claro).
É evidente que morar em Fátima, em 1917, não constitui garantia de salvação para ninguém, pelo que é possível que algumas almas, desse tempo e lugar, até mesmo tenham sido – o que é imensamente pior, Deus nos livre! –, condenadas ao Inferno...
Mas isto é apenas uma mera conjectura ou probabilidade, enquanto que o destino da Amélia, ao contrário, é um facto, é uma revelação directa de Nossa Senhora aos Homens – assim como também o facto da Virgem de Fátima ter revelado, a 13 de Julho de 1917, após a terrível visão do Inferno, que, em geral, «vão muitas almas para o Inferno por não haver quem reze e se sacrifique por elas»!
Se já naquele tempo, em que havia muito mais Amor e Temor de Deus, era assim, como não será agora?!
+ Meu Senhor e meu Deus, tende piedade de nós!
+ Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós!
+ N.ª Senhora do Rosário de Fátima, salvai-nos!
+ Beatos Fancisco e Jacinta Marto, orai por nós!
Qual seria a nossa reflexão sobre a Justiça Divina, transferindo a realidade do destino eterno da Amélia de Fátima para a realidade dos homens e mulheres, jovens e crianças, das nossas grandes e pequenas cidades, incluindo eu próprio; enfim, para as «Amélias» (almas em pecado relativamente grave) do nosso tempo – para já não falar nos que vivem, obstinada e sacrilegamente, em pecado mortal, e até se gabam disso?!
Não deveríamos nós reavaliarmos profundamente os conceitos de Misericórdia e Justiça de Deus – Deus não é SÓ Amor (ao contário do que, caprichosa e rebeldemente, pretendem muitos), mas também é perfeita Sabedoria, Justiça e Santidade! –, a fim de começarmos a praticar, na vida diária de cada um, os preceitos lógicos e sensatos de São Domingos Sávio, assim como de tantos outros Santos, que diziam frequentemente:
«Antes morrer do que pecar!»
E, isto mesmo, em conformidade com estas particulares e bem elucidativas advertências e exortações do Senhor Jesus:
«Que adianta ao homem ganhar todo o mundo (possuir todos os prazeres e vaidades), se ele vier (por isso mesmo) a perder a sua alma!?»
«Se queres ser Meu discípulo, renuncia a ti mesmo, toma a tua cruz e segue-Me!».
Uma realidade sobrenatural, que acontece efectivamente, refere-se à própria situação e condição espiritual da Amélia, ou de qualquer outra alma do Purgatório – ainda não suficientemente pura para entrar no Céu (Igreja Triunfante) –, quer tenha de penar/expiar um só dia ou ainda muitos anos:
As Almas do Purgatório (ao contrário das pessoas ainda vivas neste mundo) nada podem fazer para diminuir ou abreviar os seus próprios sofrimentos de reparação, assim como o respectivo tempo de expiação – embora tenham garantida a sua própria salvação eterna, logo após a necessária e total purificação.
No entanto, as orações, penitências e, em particular, as Missas de sufrágio, daqueles que ainda vivem na Terra (Igreja Militante), podem beneficiar, parcial ou totalmente, essa dolorosíssima e especial condição da «Igreja Padecente» (Almas do Purgatório), por obra e graça da Misericórdia e Justiça Divinas – ao ponto de uma só ou várias Eucaristias, por exemplo, poderem libertar uma Alma, que eventualmente teria de penar vários meses ou muitos anos...
Esta sobrenatural interacção, dos bens espirituais dos filhos de Deus, constitui o «Tesouro da Igreja» e a «Comunhão dos Santos», obtidos através dos Méritos infinitamente satisfatórios da Redenção de Cristo.
(Na Igreja Militante funcionam a Misericórdia e a Justiça de Deus; na Igreja Padecente só funciona a Justiça Divina; e na Igreja Triunfante funciona eternamente o infinito Amor de Deus).
Assim mesmo, deve-se entender e acreditar que a «Amélia estará no Purgatório até ao fim do mundo»..., se, infelizmente, não houver entretanto quem reze e se sacrifique por ela, ou quem mande celebrar Missas em seu sufrágio (pelo seu eterno descanso), assim como por qualquer outra alma, ou pelos nossos entes queridos já falecidos, caso necessitem.
Mas nenhuma oração, penitência ou boa-obra, se perde de modo algum, desde que bem feitas, a favor de pessoas vivas ou já falecidas, pois têm sempre muito «mérito» perante Deus (pela Sua infinita Misericórdia); o Qual, por sua vez, valoriza eficazmente e distribui justamente tais pedidos e virtudes, como benefícios e graças, por quem são aplicadas ou por quem mais precisa, a começar por nós próprios, não tanto materialmente e neste mundo, mas sobretudo espiritualmente e na Eternidade.
Todas as grandes Obras de Deus, e em particular aquelas relacionadas com a conversão e salvação das Almas – que é sempre o mais importante, pois só para esse fim fomos criados à imagem e semelhança de Deus! –, são feitas com a oração, a dor e o sacrifício de algumas Almas privilegiadas, assim como dos bons Cristãos em geral, mesmo sem darmos por isso.
Em Fátima, estas foram as Missões específicas, para além da maior Glória de Deus, desempenhadas por Jacinta e Francisco Marto – as duas Crianças morreram em circunstâncias extremamente difíceis e dolorosas! –, Almas escolhidas por Deus como vítimas da expiação e reparação dos pecados da Amélia e de todos nós; sobretudo com a finalidade de evitar a todo o custo a nossa eterna condenação, ou seja, um mal imensamente pior do que o «Purgatório até ao fim do mundo», o Inferno eterno!...
«Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas!»
E também quando nos ensinou e recomendou esta preciosa e pertinente jaculatória:
«Ó meu Jesus, perdoai-nos e livrai-nos do fogo do Inferno, levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem».